A religião no Brasil sob a visão dos sociólogos
Contrariamente às previsões dos sociólogos no início do século XX, o campo religioso brasileiro não experimentou o "desencantamento do mundo", ao contrário, tem experimentado intensamente o seu "re-encantamento". Isso demonstra que, enquanto a sociedade se esforça por ser moderna e profana, seus indivíduos, andando na contramão recorrem aos apelos sobrenaturais, deixando claro que o comportamento fundado exclusivamente na razão não alcança todos os lugares e que o religioso sobrevive. Quando se lança o olhar para os lados, percebe-se que o sagrado está em toda parte, se por um lado a sociedade demonstra não precisar de deus, por outro, o indivíduo recuperou o milagre, recuperou o contato com o outro mundo e com a possibilidade de buscar ajuda diretamente dos seres (humanos ou não), dotados da capacidade não-humana de interferência nas fontes materiais e não-materiais de aflição. Construíram de novo os velhos ídolos, re-aprenderam as antigas rezas e os já quase esquecidos encantamentos, ergueram templos sem-fim, converteram multidões, refizeram códigos de éticas e preceitos morais religiosos, desafiaram os tempos e até mesmo se propuseram à guerra. (Prandi 1996 pg. 24).
Para Prandi, no Brasil, que já não é um país de hegemonia religiosa, aproximadamente um terço da população adulta (26%) já teria passado por uma "experiência de conversão" religiosa. Evidentemente, que os critérios utilizados como"As ciências sociais, desde as análises mais remotas Frazer (1991), Durkheim (1989), Mauss (1974) e Evans-Pritchard (1978) têm discutido com muito interesse as relações entre magia e religião. De uma maneira geral, os maiores expoentes dessas disciplinas aceitaram com tranquilidade a existência de uma oposição entre religião e magia. Para Levy-Brühl a magia seria uma conseqüência de uma mentalidade pré-lógica, primitiva ou selvagem. Derkheim (1989:74) encarava a magia como um conjunto de procedimentos que persegue "fins técnicos e utilitários" e, para atingir seus objetivos, invoca forças, inclusive demoníacas, para fazer delas "instrumento de ação mágica". Para Durkheim, a magia inverte os rituais da religião, se opondo a ela em algum ponto, estabelecendo assim oposição entre mágicos e sacerdotes" (Campos 1999, 41).
Gilles Lipovetsky escreveu um livro denominado "O império do efêmero" onde defende a tese de que não havendo teles, verdade etc. sobra a experiência momentânea e o consumo.
A sociedade, no entender de Peter Berger, "é um fenômeno dialético por ser um produto humano e nada mais que um produto humano, que no entanto retrage continuamente sobre o seu produtor. A sociedade é um produto do homem (...) A sociedade existia antes que o indivíduo nascesse, e continuará a existir após sua morte. Mais ainda, é dentro da sociedade, como resultado de processos sociais, que o indivíduo se torna uma pessoa, que ele atinge os vários projetos que constituem sua vida" (Berger, 1985 pg. 15). 4 paradigma para "conversão" variam, porém, não ultrapassam a esfera do indivíduo; isto significa que desde que a religião perdeu para o conhecimento laico-científico a prerrogativa de explicar e justificar a vida, nos seus mais variados aspectos, ela passou a interessar apenas em razão de seu alcance individual (Prandi 1996 pg. 260).
Portanto, ao ser colocada de lado pela sociedade, que se declara laica e racional, "a religião foi passando pouco a pouco para o território do indivíduo". A partir do momento em que este indivíduo não se encontra mais preso à religião de seus pais, ele se encontra livre para escolher o tipo de produto ou serviço religioso que vai buscar na "hora do aperto", este comportamento forçosamente modifica a concepção de "conversão", tornando-a completamente sem sentido. Se antigamente mudar de religião significava uma verdadeira ruptura com toda uma história de vida, valores, concepções etc., agora a conversão apenas se refere à benesse que o indivíduo pode obter ao adotar outra religião, como se o fiel representasse tão somente um consumidor, que recorresse a um supermercado com muitas prateleiras e adquirisse apenas os bens e serviços que atendesse a seus anseios e necessidades naquele momento. A religião tornou-se uma mercadoria que vale o quanto for sua eficiência, aliás, brilhantemente defendida por Berger e Luckmann:
"Se quiserem sobreviver, as Igrejas devem atender sempre mais aos desejos de seus membros. A oferta das Igrejas deve comprovar-se num mercado livre. As pessoas que aceitam a oferta tornam-se um grupo de consumidores. Por mais que os teólogos se ericem, a sabedoria do velho ditado comercial � 'o freguês tem sempre razão' �impõe-se também às Igrejas. Elas nem sempre seguem o ditado, mas freqüentemente o fazem" (Berger e Luckmann, 2004 p. 61).
Nesse sentido, o avivamento do sagrado, a recuperação da relação com o sobrenatural, se dá pela via que se convencionou chamar de religiões de consumo, aquelas ditas mágicas ou da religião que "resolve", da fé de "resultados", "aqui e agora". Assim, multiplicam-se as opções de religiosidade mística, que substituem as ênfases dadas tradicionalmente às ações sociais, dando origem aos movimentos carismáticos na igreja Católica e ao denominado neopentecostalismo. Seriam estes os sinais do 'pós-modernismo' (ou do modernismo inacabado):
"Os estudiosos têm vinculado o protestantismo ao processo de modernização do mundo ocidental. Então, que transformações a religião experimenta se aceitarmos a substituição do período da modernização pelo advento de uma era de pós-modernização? Há alguma relação entre o surgimento do neopentecostalismo e a pós-modernidade?[6] (...) Porque há muitos que tentam efetuar tal análise sem perceber a existência de uma controvertida discussão sobre a oposição 'modernidade' e 'pósmodernidade'" (Campos, 1999, pg. 46).
Vamos em seguida, tentar entender o pluralismo e sentido religioso, trataremos o tema de maneira prática e suficiente para atingir o objetivo deste artigo.
A globalização na religião de hoje
A partir da modernidade e até os dias atuais, muitos fatos econômicos, políticos, culturais e religiosos, têm acontecido, tanto de ordem mundial quanto nacional, marcando profundamente nossa sociedade. O fenômeno religioso está inserido neste contexto, considerando que a religião tem um profundo significado social. Na antiguidade e idade medieval, o ser humano, ao pensar o mundo e suas ordens, pensava o sobrenatural e entendia o mundo a partir da ótica do sobrenatural. Os dogmas faziam parte da vida das pessoas. Prevalecia o teocentrismo, isto é, Deus, a religião, a fé, era o centro de tudo. Na modernidade e principalmente com o advento do antropocentrismo, o centro passa a ser o homem. Com Galileu Galilei há ruptura entre a ciência e a religião. Os fundamentos passam a ser o estado e o mercado, a religião passa a ser uma questão de opção. Já o homem pós-moderno busca Deus na interioridade, busca a religião dentro de si mesmo e, comumente fala de um Deus que é energia, força. Na pós-modernidade todos os caminhos são válidos para a pessoa encontrar-se consigo mesmo.
No campo religioso Brasileiro, percebe-se claramente a influência destes movimentos e, no entender de Ricardo Mariano, outro forte impacto recebido por este campo, foi a separação entre o Estado e a religião. Esta tendência, aliás, natural nos Estados liberais, preconizou a neutralidade religiosa do Estado e a restrição da religião à vida privada ou à particularidade das consciências individuais. Se por um lado isto foi visto com muita simpatia pelas religiões que não eram a preferida pelo Estado, por outro, o Estado, agora secularizado, passa a ter que garantir a proteção a diferentes religiões. Assim, cultos, cerimônias, liturgias e doutrinas, das mais diversas origens passam a ter proteção legal.
"(...) a separação Igreja-Estado rompeu definitivamente o monopólio católico, abrindo caminho para que outros grupos religiosos, em especial os mais motivados, militantes e competentes nas artes de atrair, persuadir e recrutar adeptos e de mantê-los religiosamente mobilizados, pudessem conquistar espaço, avançar numericamente, adquirir legitimidade social e consolidar sua presença institucional, mesmo que minoritária, nesse país cujo campo religioso foi durante a maior parte de sua história dominado por uma religião hegemônica privilegiada de diversas formas e incontáveis vezes pelo Estado".
Assim, proporcionalmente ao crescimento da liberdade, cresceu também a variedade dos concorrentes neste mercado de bens simbólicos, cresceu assustadoramente a diversificação e o volume de produtos e serviços (religiosos) oferecidos aos mais distintos nichos, segmentos e demandas do mercado religioso.
Para Peter Berger, adversidade religiosa possui um caráter secularizador por multiplicar o número de estrutura de plausibilidade, por relativizar o conteúdo dos discursos religiosos concorrentes, tornando-os privados e em razão disso gerando ceticismo e descrença.
Por outro lado, pesquisadores americanos interpretam o pluralismo religioso como evidência da fraqueza da religião a partir da modernidade e constatam que a participação religiosa é mais alta onde um número proporcionalmente maior de empresas religiosas competem.
Ou seja, quanto mais desenvolvido for o pluralismo religioso maior será a mobilização e a participação religiosa do conjunto da população. É importante salientar que pluralismo religioso é tratado aqui, não apenas como a multiplicidade de grupos religiosos sistematicamente organizados, mas também diferentes concepções religiosas, diferentes maneiras de visão religiosa.
Seitas e religiões podem mudar sentimentos de injustiça social, por exemplo, em formas relativamente inofensivas para a sociedade. Segundo Berger:
"Se é necessário que se construam mundos, é muito difícil mantê-los em funcionamento". Para isso, seria preciso a disseminação de idéias. Pode-se encontrar idéias, que estimulam o homem a "salvar o mundo". Elas oferecem ao homem o céu e não apenas as condições objetivas. Nesta área de tão vastas possibilidades de transcendência, a religião tem o poder, o amor e a dignidade da imaginação e, nesse nível, o simbólico satisfaz qualquer carência ou desejo. Deus, ou qualquer entidade supra terrena tem o poder de reduzir conflitos e encaminhar soluções. De um modo ou de outro, essas tentativas, buscas e anseios, explicam uma necessidade humana: inteligibilidade do mundo, identificando razões, motivos e intenções. Alves (1985).
O homem ao buscar na religião o instrumento para suas respostas encontra, via de regra, todas as alternativas prontas. A critica, se aceita, pode induzir a negação e, neste campo, não é permitido. As pessoas não podem ser convencidas a abandonar suas idéias religiosas. Idéias são ecos, fumaça, sintomas. Se elas têm idéias é porque a situação as exige.(Alves, 1981, p. 42). O pluralismo religioso vivido pelo brasileiro, no entanto, tem trazido uma intensificação do descrédito no sagrado. A decepção do crente, no momento em que não consegue ter suas necessidades imediatas atendidas, tem feito com que cresça assustadoramente o número dos "sem religião" nas estatísticas oficiais. É uma espécie de diluição da religião, onde o grande número de alternativas, crenças, santos, igrejas, cultos, missas etc. que, efetivamente, não tem aproximado o indivíduo do sagrado, muito pelo contrário, tem distanciado e frustrado.
São os efeitos da modernidade, da pós-modernidade ou o crescente distanciamento do homem daquele "sentido para vida" prometido pela religião.
Religião no passado e no presente
Diante dos desafios que nos propõe esta nova época na que estamos imersos, renovamos a nossa fé, proclamando com alegria a todos os homens e mulheres do nosso mundo: Somos amados e remidos em Jesus, filho de Deus, e Ressuscitado, vivo no meio de nós.
Mesmo atravessando as freqüentes referências ao efeito paralisador exercido durante um longo tempo pela Igreja Católica no qual surgiram alguns desacertos, algumas omissões, não podemos deixar de ressaltar os contínuos esforços empregados pela própria Igreja não só com o propósito de se redimir, mas, acima de tudo de renovar-se alargando caminhos, buscando um elo de união mais forte com o seu povo, dando um verdadeiro sentido de Família Cristã.
É só voltarmos ao passado e lembrarmos como tudo era diferente: a Santa Missa celebrada no latim, língua mãe, passou a ser língua vernácula. A postura do Padre, indiferente aos fiéis, reservado, limitado, vivendo um mundo cheio de tabus impostos pelo Clero, podando dessa forma a sua capacidade evangelizadora. Os sacerdotes eram ministrados automaticamente, ou seja, sem que ninguém soubesse o seu grandioso conteúdo. O sentido de pecado atingia uma proporção gigantesca por se encontrarem ainda adormecidos na fé e no propósito de vida escolhido por Jesus, o qual sempre se resumiu no amor, na partilha e na caridade.
Com o passar do tempo e, mantendo-se nessa rigidez, a religião começou a ser abolida por muitos católicos, dando livre arbítrio de atuação e interpretação a cada pessoa.
Essa maneira de agir chocou o próprio ser humanos por ser ela (a religião) um porto para a nossa sobrevivência, por necessitar-mos de um leme, de uma luz, de alguém que supere todo o nosso eu, para que nos espelhemos em suas virtudes e nos ajude a dissipar as sombras que vão se tornando densas ao nosso redor, abrindo espaços para que a desesperança se aloje em nossos corações.
Porém, volto a dizer: o Deus Criador de todas as coisas continua vivo, diante de cada um de nós, esperando uma oportunidade para atuar. Hoje, graças a esses acertos e desacertos, vivemos a religião de uma forma mais ampla, mais nítida, mais participativa.
Nós, os leigos, somos atuantes em vários setores da Igreja, em várias pastorais e vivemos em sintonia com os pastores os quais atuam como verdadeiros renovadores da Fé, mestres dedicados, nos proporcionando um amplo campo de ação para que assumamos a responsabilidade e a missão de levar a Luz do Evangelho à vida pública, cultural, econômica e política.
Os preceitos cristãos se mantêm firmes. A prudência e a retidão são componentes necessários à busca da identificação com o Mestre através da coerência entre a fé e a vida. Temos que ressaltar o crescimento, a fluência de crianças, jovens e adultos nas diversas atividades religiosas. Ame-se e saberá amar...
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