segunda-feira, 6 de julho de 2015

O cachorro pode ser seu avô?


por Cláudia Santos


Mesmo sem acompanhar a novel, algumas vezes me deparei, ao ligar a tevê, com cenas em que algum personagem declarava a outro que, por alguma atitude tomada, poderia reencarnar no corpo de algum animal. “Por estar mentindo aos deuses, poderá renascer como gafanhoto!” e “se você se matar, pode reencarnar como sapo” foram algumas delas.




Muitas frases ditas nesse sentido são feitas dentro de linguagens populares, como brincadeira ou até forma de ameaça didática, como sabemos, mas podem até gerar dúvidas nos menos informados. 


Afinal, o espírito que animou o corpo de um homem poderia encarnar-se em um animal?

Sobre a chamada “metempsicose”, uma fantasia originária de culturas antigas, segundo a qual a alma pode animar, sucessivamente, variados corpos, de homens, animais e vegetais, O Livro dos Espíritos é categórico: “Isto seria retrogradar, e o Espírito não retrograda. O rio não remonta à nascente.” (Item 612)

Segundo as respostas dadas pelos espíritos a Allan Kardec, duas coisas podem ter a mesma origem e não se assemelharem em nada mais tarde. “Quem reconheceria a árvore, suas folhas, suas flores e seus frutos no germe informe que se contém na semente de onde saíram? No momento em que o princípio inteligente atinge o grau necessário para ser espírito e entra no período de humanidade, não tem mais relação com o seu estado primitivo e não é mais a alma dos animais, como a árvore não é a semente. No homem, somente existe do animal o corpo, as paixões que nascem da influência do corpo e o instinto de conservação inerente à matéria. Não se pode dizer, portanto, que tal homem é a encarnação do espírito de tal animal, e por conseguinte a metempsicose, tal como a entendem, não é exata.”

Ainda conforme O Livro dos Espíritos, a metempsicose seria verdadeira se por ela se entendesse a progressão da alma de um estado inferior para um superior, realizando os desenvolvimentos que transformariam a sua natureza. Mas ela é falsa no sentido de transmigração direta do animal para o homem e vice-versa, o que implicaria a ideia de uma retrogradação ou de uma fusão. “Ora, não podendo realizar-se essa fusão entre seres corporais de duas espécies, temos nisso um indício de que se encontram em graus não assimiláveis e que o mesmo deve acontecer com os espíritos que os animam. Se o mesmo espírito pudesse animá-los alternativamente, disso resultaria uma identidade de natureza que se traduziria na possibilidade de reprodução material. A reencarnação ensinada pelos espíritos se funda, pelo contrário, sobre a marcha ascendente da natureza e sobre a progressão do homem na sua própria espécie, o que não diminui em nada a sua dignidade. O que o rebaixa é o mau uso que faz das faculdades que Deus lhe deu para o seu adiantamento. Como quer que seja, a antiguidade e a universalidade da doutrina da metempsicose, e o número de homens eminentes que a professaram, provam que o princípio da reencarnação tem suas raízes na própria natureza; esses são, portanto, argumentos antes a seu favor do que contrários.”

Os espíritos ainda esclarecem: “As diferentes espécies de animais não procedem intelectualmente umas das outras, por via de progressão; assim, o espírito da ostra não se torna sucessivamente do peixe, da ave, do quadrúpede e do quadrúmano; cada espécie é um tipo absoluto, física e moralmente, e cada um dos seus indivíduos tira da fonte universal a quantidade de princípio inteligente que lhe é necessária, segundo a perfeição dos seus órgãos e a tarefa que deve desempenhar nos fenômenos da natureza, devolvendo-a à massa após a morte. Aqueles dos mundos mais adiantados que o nosso são igualmente constituídos de raças distintas, apropriadas às necessidades desses mundos e ao grau de adiantamento dos homens de que são auxiliares, mas não procedem absolutamente dos terrenos, espiritualmente falando. Com o homem, já não se dá o mesmo.”

E completam: “Do ponto de vista físico, o homem constitui evidentemente um anel da cadeia dos seres vivos; mas, do ponto de vista moral, há solução de continuidade entre o homem e o animal. O homem possui, como sua particularidade, a alma ou espírito, centelha divina que lhe dá o senso moral e um alcance intelectual que os animais não possuem; é o ser principal, preexistente e sobrevivente ao corpo, conservando a sua individualidade. Qual é a origem do espírito? Onde está o seu ponto de partida? Forma-se ele do princípio inteligente individualizado? Isso é um mistério que seria inútil procurar penetrar e sobre o qual, como dissemos, só podemos construir sistemas.”

Irvenia Luiza de Santis Prada, veterinária e membro da AME-Brasil, lembra que o perispírito é o modelo organizador biológico, responsável pela embriogênese, quer de homens quer de animais ou plantas. “Assim, seria impossível a um perispírito parar o desenvolvimento na fase animal se já atingiu maior complexidade evolutiva, ou seja, a fase humana, assim como seria impossível a um animal atingir imediatamente a expressão do ser humano, se ainda não chegou a essa complexidade”, finaliza.

Princípio espiritual evolui


Já que o homem não pode reencarnar como um cachorro, por exemplo, seria possível ocorrer o contrário? O escritor e colunista da Folha Espírita Richard Simonetti, autor do livro Reencarnação, Tudo o Que Você Precisa Saber, tem a resposta: “Todo animal possui um princípio espiritual em evolução que um dia atingirá a complexidade necessária ao exercício do pensamento contínuo, transformando-se em espírito, habilitado à experiência humana. Não obstante o comportamento de certas pessoas sugerir que fizeram essa transição recentemente, ela demanda o concurso dos milênios e ocorre em outros planos da Criação, não na Terra, e envolve estágios intermediários. Não há, portanto, a mínima possibilidade de que um animal possa reencarnar como ser humano”, esclarece.

Julho de 2009 - Edição número 419



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