por Ricardo Di Bernardi
Ao relacionarmos as dificuldades do ser humano com a história pregressa do próprio indivíduo, estabelecemos o conceito de carma. Vale a pena recordar que o conceito por nós, espiritualistas, esposado difere do conceito adotado por outras filosofias re encarnacionistas. Trata-se de um conceito dinâmico. Modifica-se o carma a cada momento conforme pensamento ou sentimentos que estão sendo emitidos.
Assim, se alguém traz no seu inconsciente (espírito) registros energéticos de experiências passadas desastrosas que criam tendências em determinado sentido, estas "tendências" podem se manifestar ou serem neutralizadas parcial ou quase totalmente por atos construtivos ou de elevada espiritualização do indivíduo.
Há uma frase do Novo Testamento, mais exatamente, na 1ª. Epístola de Pedro, o apóstolo, capítulo IV, versículo 8, que diz: "Mas sobretudo tende ardente caridade para com os outros; porque a caridade cobrirá uma multidão de pecados".
Sabemos que atos de caridade, sabedoria e amor se traduzem em ondas mentais de elevada freqüência e pequeno comprimento ondulatório. São ondas luminosas, brilhantes, de odor agradável e extremamente suaves em todos os sentidos. Ao se emitirem ondas deste jaez ocorre um processo de compensação ou neutralização do potencial energético que compõe o patrimônio espiritual (construído no passado), do nosso personagem em questão.
Não somos, pois, escravos do pretérito. Sofremos as influências das situações por nós mesmos criadas, mas somos seres inteligentes, pensantes, atuantes, portanto, capazes de modificar nossas tendências, em outras palavras, nosso carma.
Tendo feito estas considerações básicas a respeito de carma analisemos a questão proposta: "Os pais sofrem em função do carma dos filhos: Isto é Justo?
A paternidade e a maternidade são quase sempre decorrentes de vínculos pretéritos. O triângulo constituído por pai, mãe e filho, resulta de uma continuidade necessária para todos os envolvidos na nova constelação familiar, onde, também, irmãos e parentes próximos são normalmente ligações de encarnações anteriores. Nossas dívidas se fazem, muitas vezes, dentro do núcleo familiar e retornamos para corrigir as distorções antigas, no mesmo meio.
Nossos filhos são espíritos. E são espíritos com os quais já mantivemos antes importantes vínculos. Com relação a natureza destes vínculos, poderemos classificá-los em vínculos de afeto e de desafeto. Freqüentemente, as dificuldades vivenciadas por duas pessoas gerou ente elas um ódio mútuo, ou outra ligação fortemente estreitada pelas energias deletérias de sentimentos inferiores. São aos vínculos acriados pelo desafeto do passado.
Uma vez estabelecida a troca recíproca das vibrações desestruturantes, cria-se um elo magnético que prenderá mutuamente os dois indivíduos. Não só o amor, mas igualmente o ódio une as pessoas. Uma união no sentido de dependência energética que, em alguns casos, chega a conseqüências extremas.
Espíritos ligados um ao outro requerem uma solução terapêutica, que, muitas vezes, só encontra resolução adequada pela anestesia do passado, apagando-se temporariamente as lembranças perturbadoras, através de nova encarnação.
Contudo, a reencarnação se tornará realmente eficaz, na sua função educadora, mantendo os dois envolvidos próximos, criando-se condições para que haja um vínculo de amor entre ambos. Ao renascerem, sob o mesmo teto, no templo do lar, pelo instituto divino da reencarnação, anestesiados pela sábia lei do esquecimento do passado, eles aprenderão a se perdoar e a se amar.
Aquele bebê rosado que agora o pai ou a mãe abraçam e acariciam emocionados, habitualmente é uma vítima sua do passado, que agora receberá a quota de atenção e os cuidados que lhe eram devidos. Pai e Mãe podem se enternecer perante a figura doce e suave de um bebê. A lei da reencarnação propiciou condições para que, neste instante, vítima e algozes se abracem, chorem de emoção e passem a desenvolver uma nova experiência: A experiência do amor.
Em determinadas reencarnações, pai e mãe é que foram vítimas, e o espírito que agora desce ao berço, o algoz do passado, Outras vezes o desentendimento maior se fazia entre dois do triângulo familiar e o terceiro se constituía no elemento de aproximação entre ambos. As circunstâncias são absolutamente peculiares a cada caso, mas só através da reencarnação e o véu do esquecimento do passado, poderemos compreender a máxima cristã de amar os inimigos.
No entanto, muitas encarnações se fazem novamente como continuidade de vínculos afetivos pretéritos. Podemos, didaticamente, subdividir as situações de ligações afetivas anteriores em dois grupos: os afetos harmônicos e os desarmônicos.
Analisemos inicialmente as situações de afeto harmônico. Tratam-se, neste caso, de espíritos afins, apresentando interesses comuns, semelhança de vibrações energéticas, auras que se sintonizam suave e facilmente. Antigos parentes, velhos conhecidos desta ou de outra encarnação, que retornam ao convívio a fim de receberem o amparo necessário para serem reconduzidos à tarefa maior da evolução. Os lares também recebem, portanto, espíritos afins que ampliarão os liames da amizade, fortificando as uniões anteriores.
Finalmente outra situação mencionada é aquela em que a escolha dos pais é efetuada visando corrigir um distúrbio na área afetiva: um afeto desarmônico. Vinculações anteriores, neste caso, foram estabelecidas não pelo ódio, mas por um afeto egoísticamente criado. Situações onde duas pessoas mantiveram uniões, lesando uma terceira no seu equilíbrio emotivo. Foram situações de ligações extraconjugais de longa duração e de aparente estabilidade. Duas pessoas que, embora tenham assumido compromisso com terceiros, passam a conviver sexualmente durante uma existência, em detrimento do equilíbrio afetivo de seus parceiros programados. Cria-se entre a dupla uma interdependência energética, onde ambos reciprocamente se alimentam das energias sexuais do novo parceiro, estabelecendo um vínculo que carece de uma reestruturação a nível de valores espirituais, mais de acordo com a lei universal.
O plano espiritual programa, através das entidades encarregadas deste setor, uma reencarnação onde se deverá mudar o padrão energético-afetivo estabelecido entre os dois personagens em questão. A solução mais freqüentemente utilizada é a manutenção da união entre ambos, mas não uma união conjugal, e, sim, encarnam como pai e filha ou mãe e filho.
A sabedoria da lei universal encontra na reencarnação o lenitivo do esquecimento para a manutenção do vínculo afetivo, em moldes não lesivos aos envolvidos.
Nesta nova existência, a dupla passará a exercitar o amor desvinculado do envolvimento sexual, porém alicerçado pelas bênçãos do lar.
Em determinadas situações, a intensidade da ligação é tão expressiva e desequilibrada que os elos do passado ainda exercem forte influência na nova vida chegando a suplantar o instinto maternal e filial. Surgem, então, patologistas. Assim sendo, o complexo de Édipo, onde o filho nutre pela figura materna a paixão do passado que ainda não foi suficientemente anestesiada por apenas uma reencarnação. O equivalente no sexo feminino, o Complexo de Eletra, quando a filha ainda guarda fortes reminiscências da vida anterior, tem a mesma explicação. Desvios estes que serão todos sanados, se não nesta vida, em outra próxima, pelo trabalho das equipes de planejamento e escolha dos pais do espírito que renasce.
Como observamos, não há em família, carmas isolados. Há uma constelação familiar e um carma comum. Cada estrela da constelação se encontra na posição adequada as suas necessidades e vivenciando a situação de acordo com seu exato merecimento. Se assim não fosse, Deus não seria justo ou não existiria. Não se trata, em hipótese alguma, de punição ou castigo. Carma é uma conseqüência lógica do sábio automatismo da lei.
Podemos também considerar carma como um processo de drenagem das energias desarmônicas do passado. Assim, por exemplo: Se alguém renasce com um determinado defeito físico, ou fragilidade orgânica em determinada área, não o faz por punição, mas isto ocorre porque o seu corpo espiritual lesou-se ao armazenar energias oriundas de desatinos cometidos no pretérito. O corpo espiritual sendo o modelo energético do novo organismo físico determinará que este último sirva de "mata-borrão" para suas imperfeições. Desta forma, drenando para o corpo físico, busca readquirir seu equilíbrio e retornar ao ritmo de crescimento espiritual rumo a sabedoria e ao amor.
Lembramos também que, em muitas circunstâncias, os pais solicitam, antes de reencarnar, a oportunidade de auxiliar espíritos afins. agora seus filhos, recebendo-os em seu lar mesmo em condições de deficientes físicos ou mentais. São opções de amor e doação.
Os pais, portanto, não "sofrem pelo carma dos seus filhos" mas vivenciam um carma comum e a continuidade de vínculos anteriores.